Da magia da Primavera

Há uma magia inegável na Primavera. É esse o seu fascínio.

A Primavera chega e veste de flores as amendoeiras nuas há meses e coloca florzinhas em todos os buraquinhos dos caminhos empedrados. Aquece os dias, as casas mais frias e os corações.

A Primavera tem aquele cheiro inconfundível a esperança, a caminhadas e a roupas alegres.

É como uma avó sábia, a quem se recorre para os melhores conselhos, que depois de um inverno rigoroso, nos agarra, com jeitinho na mão e nos segreda ao ouvido: ” vês, é possível!”

Imagem daqui

PA

Ouvi na terapia…

“Por que guardas uma crítica que recebeste há anos e ignoras um elogio que recebeste ontem?
Que solo fértil é esse que essa crítica encontrou dentro de ti para criar raízes?”

PA

13 de Março de 2020

Foi há um ano que saí de casa sem máscara pela última vez. Um dia depois de a Organização Mundial de Saúde ter declarado a pandemia.

Na tarde dessa sexta-feira, quando fechei a porta de casa, não sabia que iria estar quase dois meses inteiros sem por o pé na rua.

Também não fazia ideia que iria estar mais de um ano sem ver a maioria dos meus amigos e familiares sem ser através das vídeochamadas que se instalariam como uma constante da vida neste ano tão estranho, tão diferente de tudo o que conhecíamos.

Um ano depois, e novamente em confinamento, ainda é confuso olhar para esse dia 13 de Março de 2020. Era sexta-feira, mas ninguém falava dos planos para o fim de semana. Era um dia de sol, mas havia no ar um nevoeiro de incerteza e de medo do desconhecido. No escritório, a atmosfera normal de descontracção tinha dado a lugar a caras preocupadas e as conversas mundanas giravam agora à volta de um inimigo comum invisível e pernicioso, do qual se sabia muito pouco.

Na tarde dessa sexta-feira tomei, sem nenhuma consciência disso, aquele que seria durante muito tempo, o último café com os meus colegas. Um velho hábito que se juntou a todas as pequenas (e grandes) coisas que a pandemia levou.

Um ano! Passou um ano. Um ano completamente disruptivo. Um ano sem festas, de fronteiras fechadas e cidades adormecidas, um ano cheio de confinamentos e de àlcool gel, um ano de afastamentos, de contabilizações atrozes todos os dias.

Um ano depois, voltamos a estar confinados em nossas casas. Um país, um Mundo, fechado à espera da Primavera…

O que sobrou? O que ficou de tudo o que abdicámos?

Ficou a adaptação. A certeza de que, enquanto humanos, nos dobramos e esticamos, nos encolhemos e viramos do avesso para sobreviver. Somos camiões de carga numa estrada de terra, avançamos, mesmo com medo, sem saber bem por onde vamos, mas sem parar de tentar. Entramos pelo desconhecido com a mesma coragem com que bebemos café numa tarde calma de sexta-feira. Fazemos o que for preciso. E isso é uma lição que devemos reter.

Ficou, também, o compromisso.

Já sabemos que a humanidade não melhorou com a pandemia e que quem não era boa rês antes, muito provavelmente até aguçou o espírito de malvadez. Todos conhecemos, durante este ano, aquela malta que defendeu a segregação dos maiores de 70 e dos doentes crónicos, porque a economia não podia parar toda SÓ por causa dos mais fracos. Ou aqueles que perpetraram diversas teorias da conspiração, ou que continuaram em almoçaradas e festas, à custa de milhares de mortos.

Mas também vimos o outro lado. Vizinhos a ajudarem os mais frágeis, músicos a darem concertos online, grupos a movimentarem-se para ajudar o comércio local, pessoas unidas num propósito comum. Vimos livrarias a doar livros, professores a dar aulas pela televisão, médicos, enfermeiros e auxiliares a sacrificarem tudo para ajudar os doentes. E vimos, muita gente, a tentar encurtar distâncias e reduzir dificuldades. Vimos uma boa parte do Mundo unida, num compromisso conjunto, em que cada um tentou ( e tenta) dar o seu melhor para derrotar este vírus e a solidão e dor que ele provocou ( e provoca).

Um ano depois, continuamos a não saber quanto caminho nos falta desta estrada sinuosa, mas sabemos já que a adaptação e o compromisso são as únicas formas de continuar em frente!

John Lennon Wall,  REUTERS/David W Cerny

PA

Natal 2020

Este Natal é, certamente, muito diferente dos Natais que vivemos até agora.

Há uma certa noção de Humanidade em pensarmos que um pouco por todo o Mundo será igual: restrições, regras, medidas, números, limite de pessoas, famílias divididas, viagens adiadas ou canceladas, fronteiras fechadas, vidas suspensas, abraços virtuais…

Este Natal é diferente, sim. E seguramente muito difícil para os que estão doentes, para os que perderam os seus entes queridos, para os que ficam sozinhos, para os que perderam o emprego e se vêem em situações económicas muito débeis. Esta Pandemia, além de mudar o Mundo, destruiu o mundo de muitos.

Para os demais, apesar de todos os pesares, o Natal mantém-se, talvez numa versão mais simples e menos festiva, mas se está lá o que é essencial, há todas as razões para agradecer.

Que nos foquemos no que é, verdadeiramente, importante.

Feliz Natal.

PA

Como eu já fui o Grinch…

#repost

Eu já fuji do Natal,  já tive de retirar alguém do Natal.  Já senti aversão ao Natal e tive medo da tristeza que esta época iria provocar em mim e ao meu redor.

Resumindo: eu já fui o Grinch.

O Natal não é só luzes,  árvores, presentes,  decorações e  música. O Natal é muito mais que isso: é família,  é amor, tradição, espírito, fé e alegria. É a “família toda à mesa“.

Naquele ano não suportava essa descrição – doíam-me os ouvidos de cada vez que a ouvia -, nem aguentava as conversas sobre os planos e a azáfama, não suportava o espírito e não suportava, sobretudo, o sofrimento que aquela cadeira vazia ia causar.

Para proteger a M. decidi que nesse ano não haveria Natal. Aliás, nunca mais haveria Natal. As decorações permaneceriam nas suas caixas, a árvore não veria a luz do dia,  não haveria prendas, para além dos anjinhos de Natal do Exército de Salvação, e iríamos para longe, logo no dia 23, para uma aldeia no meio do nada,  só nós. Íamos fugir do Natal.

E assim foi.

Mais ou menos.

Logo no primeiro dia travámos conhecimento com outra família de fugitivos,  também eles não imaginavam voltar a passar o Natal em casa, com uma cadeira vazia. E fomos encontrando outros e outros, todos a fugir do Natal, a tentar esquecer que era Natal ou a não ligar nenhuma ao Natal. Não éramos os únicos.

Isso tocou-me, mas não dei grande importância.

No dia 24 à noite fomos jantar. Olhei à minha volta e vi aquelas pessoas todas, uma sala cheia de gente, a viverem o seu Natal longe das suas casas, numa aldeia no meio de nenhures, sem árvores enfeitadas, sem presentes, sem decorações, muitas, provavelmente, tentando esquecer que era Natal. Olhei para a nossa mesa, para a minha pequena enorme família e percebi que o Natal estava ali. Tinha sempre estado ali.

Não precisávamos de mais nada, era Natal, como nos outros dias todos. E essa constatação abateu-se sobre mim com uma clareza brutal, como um sinal ou qualquer coisa assim. E eu não parava de pensar “como é nunca percebi isto?” enquanto escondia as lágrimas que me escorriam pela cara…

Eu tinha percebido o que era o Natal.

Saint Exupery ensinou-nos que “o essencial é invisível ao olhos”. Nessa noite eu percebi, nitidamente, como isso é verdade.

Tínhamos fugido do Natal,  mas só  escapáramos das luzes,  das prendas, da azáfama,  da árvore, dos enfeites e dos telefonemas e mensagens. Mas o mais importante tínhamos levado, sem perceber. O espírito do Natal estava ali. E estava na rua, no frio, estava na neve que caía e na enorme fogueira que começara a crepitar já próximo da meia noite.

PA.

De Recomeçar

Sabes, romantiza-se muito os recomeços, aquela coisa da janela que se abre quando a porta se fecha ou da fénix que renasce das cinzas.

Mas recomeçar é muito duro, e às vezes tem muito pouco de bonito. Recomeçar não é uma janela aberta para um campo verdejante, num dia bonito. É mais um buraco tapado com cimento que tens de partir com as poucas forças e ferramentas que te restaram depois de cair.

É ficar à chuva e ao frio, dia e noite, a construir um caminho, às vezes sem saber para onde.

Recomeçar também não é rápido, como parece nos filmes ou nas histórias de auto-ajuda. Não. Recomeçar demora tempo. Levam-se meses, às vezes anos, a partir a janela para se ver alguma coisa através dela.

E depois não é constante. Às vezes anda-se para trás ou acaba a força para continuar. E, muitas vezes, parece impossível.

Recomeçar não é um um estado de espírito, como dizem. É preciso muito mais que só vontade. É preciso força, mas saber não forçar. É preciso amor-próprio e paciência para colar os pedaços que se partiram dentro de nós. É preciso pensar, sem deixar que os pensamentos nos paralisem e é preciso deixar que doa, sem que a dor nos defina.

Não, recomeçar não é um processo romântico, simples ou indolor. A maioria das vezes é mesmo uma das coisas mais difíceis que se faz na vida.

PA

11 Remédios naturais para a chegada do frio

Fazer um chá e ficar a olhar para o fumo a sair da caneca

Ouvir música (quase tudo melhora com música)

Cheirar o café e pôr as mãos à volta da chávena quentinha

Meias quentinhas e pirosas

Um banho quente

Chocolate (em qualquer das suas formas)

Usar luvas ou pôr as mãos dentro das mangas da camisola

Comer uma sopa quente com hortelã

Bolachas com mel (a minha grande perdição)

Um cachecol fofinho (melhor ainda se for perfumado)

Ver um filme, de preferência uma comédia

Fazer pão e comê-lo quando sair do forno

PA

1 boa razão para aproveitar o Verão de São Martinho

O Verão de São Martinho está aí. É um fenómeno, já sabemos. 

Mas esqueçamos isso e olhemos para este Verão a meio do Inverno de uma forma infantil, aceitando as coisas sem precisar de explicação para elas, como quem fecha os olhos e sente aquele ventinho a bater na cara.

Claro que este ano tudo é diferente e são muitas as limitações que existem para aproveitar estes dias mais quentes. Mas um pedaço de Verão no meio do Inverno continua a ser um milagre.
As roupas mudam,  as caras ficam mais sorridentes e tudo fica mais animado e colorido quando as temperaturas sobem para os 26 graus.

Apesar do momento que vivemos, é uma lufada de ar fresco no meio do Inverno, um presente que recebemos sem pedir.

Por isso, antes de prosseguir, vamos respirar fundo e parar um bocadinho neste Verão de São Martinho, comer umas castanhas e sentarmo-nos numa esplanada ou na varanda a beber um café e a gozar este sol.

Os milagres são raros, vamos pensar que este nos foi concedido por alguma razão e dar-lhe a atenção devida. E fazê-lo eterno enquanto dure.

#repost

PA.

Da gestão da Raiva

No livro Pequeno Curso de Magia Quotidiana  (ainda sem versão portuguesa), a filósofa Anna Sólyom conta um ritual utilizado pelos esquimós, para lidar com a raiva:

“Um costume dos esquimós para acalmar alguém que está enraivecido consiste em fazer essa pessoa andar no meio do campo, seguindo uma linha recta. O ponto em que a pessoa fica aborrecida é marcado com uma estaca, como testemunho da força e da duração da raiva.”

Simples, não é? Vou passar a aplicar esta tecnica, até porque me parece qye só tem vantagens.

Em primeiro lugar, é sempre bom fazer exercício, em segundo o simples facto de sairmos da nossa bolha de raiva e mexermo-nos vai-nos obrigar a focarmos a nossa atenção em outras coisas, como mantermo-nos na linha recta e, por fim, ao entrarmos em movimento e distribuirmos a nossa atenção a raiva vai começar a perder força até que ficaremos aborrecidos por esses sentimentos negativos e nefastos.

Nada como experimentar, certo?

Art. Bryan Alexander/Arcticphoto

PA

Frustração de expectativas

– Sim, tenho muita pena – respondeu-me ela.

Senti a desilusão na voz dela. Conhecia bem aquele “tenho muita pena”, que só se ouve de quem já conhece bem a diferença entre as coisas que importam realmente e as que merdices que a vida nos tenta impingir.

Fiquei triste. Sei, por experiência própria, que quando partilhamos essa pena que temos, está a doer alguma coisa lá dentro, num cantinho bem escondido dentro de nós onde guardamos os desencantos da vida e os projectos aos quais demos tudo e não foi suficiente.

Perderam-se, no caminho, as expectativas que tínhamos e deram lugar, no final, a um espaço vazio que é preciso preencher de alguma maneira, antes que o vácuo se instale.

É preciso dar tempo, restaurar a esperança e aprender a criar novas expectativas, mesmo que tenhamos medo da desilusão, não podemos deixar-nos vencer por ela.

Art. Banksi

PA