Andar contra o vento

Tantas vezes somos forçados a recuar. Tantas vezes andamos para a frente e vem a vida, essa danada, e nos empurra para trás outra vez.

E, então, parece que caminhamos no meio da ventania, a tentar romper o vento, com todas as nossas forças, até que a tempestade leva a melhor e temos de nos abrigar. Não para esperar que passe, mas para recuperar energia e voltar lá para o meio. Dar mais um passo e mais outro, mesmo que nos custe alguns recuos.

Porque com as caminhadas difíceis aprendemos que com dois passos para frente e um para trás ainda estamos a avançar.

PA

Imgem daqui

Há uma coisa que não muda

Não, as coisas nunca voltam a ser as mesmas e nós não voltamos a ser os mesmos. Há um dia, uma altura, em que isto se torna simplesmente evidente e em que o peso desta realidade se torna demasiado para que possamos continuar a ignorá-la…

Nós mudamos, tudo muda à nossa volta e nada volta a ser aquilo que foi. Nada a fazer!

Não, nós não voltamos a ser os mesmos desses dias em que víamos um potencial amigo em cada estranho,  os mesmos que acreditavam em toda a gente a toda a hora, que pensavam que todos os sonhos se podem realizar e que achavam que bastava querer muito para conseguir tudo…

Nós crescemos, demais. E nada é igual ao que era antes. Vimos, ouvimos e sabemos demais. E isso vê-se nas conversas pragmáticas e desapaixonadas, nos votos de vencido que fazemos todos os dias, mais por uma consciência tranquila que por acharmos que vai mudar alguma coisa.

É verdade, as coisas mudam, as pessoas também…

Nada é igual a antes de se ouvir um disparate, desfazer uma amizade, fazer uma asneira, ver um equívoco tornar-se demasiado grande para se ultrapassar, ter um sonho irremediavelmente desfeito, um desgosto demasiado pesado, uma confiança traída…

Nada é igual, porque todas as pequenas coisas que fazem os nossos dias mudam, o que  é e o que foi, o que fomos e o que somos.

E, por isto, os nossos lugares também não voltam a ser os mesmos, porque tudo se transforma. Sem se perder, é o que dizem…

Não são iguais ruas onde passámos, embora sejam as mesmas, nem são iguais as escolas onde estudámos ou as casas em que vivemos, nem sequer são iguais as caras das pessoas que conhecemos e que vemos nas fotografias que tirámos… não são os mesmos, os olhos que vêem hoje.

Mas há sempre algo que fica disso tudo, algo puro que cristalizou, como a fruta do bolo-rei que comíamos noutros Natais, daqueles que tinham o brinde e a fava e sabiam de outra maneira. De tudo isso, das ruas, das escolas, das casas e das caras, resta uma memória, uma história pequenina e intemporal que não cresce connosco, que ficou lá e que se afagares a lâmpada aparece como o génio só para realizar, por um bocadinho, aquele sonho mais escondido e infantil de voltar atrás…

Para seguir em frente!

P.

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